terça-feira, 13 de outubro de 2015

Motorização de instrumentos medievais

Todos os anos temos no primeiro semestre uma Feira Medieval. É uma feira na qual as crianças se organizam ao longo de quase um mês para tentar caracterizar o máximo possível o espaço da escola, encontrar roupas adequadas, ensaiar danças e músicas, trocar informações sobre o períodos, enfim, entender o funcionamento da idade média... É um trabalho que sempre fica lindo!!

Como a disciplina de Educação Tecnológica não tem ligação imediata com a idade média, tendo em vista que temos vários motores e sensores em uso, optamos por estudar os instrumentos que eram utilizados na idade média, separados por categoria (agricultura, comércio, armas de guerra ou tortura), selecionar os que fossem possíveis de motorização e na sequencia os que fossem possível replicarmos com o nosso material.

Acho que uma das coisas legais da sala de aula é quando a aula flui e todos participam. Neste ano só dou aula para uma das seis turmas de 7º ano e fico imaginando se tivesse mais turmas, porque a aula foi divertidíssima! Ri um monte e as crianças participaram com tantas ideias que achei que não fossem caber no quadro!

O que apareceu, com falha na memória, foi o seguinte:

Agricultura
Arado
Charrua
Moinho de água ou de vento
Roda d'água 

Comércio
Tear
Roda de fiar
Carroça 

Máquinas de guerra ou de tortura
Catapulta (aqui falei que há vários tipos e expliquei a diferença)
Balista/ Besta
Dama de ferro
Guilhotina
Forca
Roda do desespero
Cama de tortura
Amassador de joelho

Desses, vários seriam passíveis de motorização na atualidade. Destes, alguns não seriam interessante de motorizar com nosso material pela dificuldade ou pela inadequação. Então, cada grupo escolheu três instrumentos para motorizar.

AH! Não deixe de reparar na quantidade de instrumentos de tortura que surgiram! Esses foram os que lembrei, mas vários outros foram citados e descritos... Acho que a justificativa para tal é que quando buscamos no Google "instrumentos medievais", os resultados que aparecem são basicamente de dois tipos: musicais e de tortura. Daí não tem muito o que fazer, tendo em vista que não iríamos tratar de instrumentos musicais.

Enfim, o que dos instrumentos os grupos decidiram fazer?? Catapulta, charrua, roda d'água (foto mais acima), forca (foto logo abaixo) e guilhotina (foto mais abaixo).



Essa guilhotina ficou muitíssimo bem feita porque a "lâmina" corria entre peças de modo que não ficasse balançando quando estivesse subindo ou descendo!

Chegaram a tentar montar uma dama de ferro e o arado, mas o primeiro ficou bem complicado por causa dos pregos e por ser uma caixa, e o segundo porque acabava se transformando numa charrua.

Ai vai um vídeo de montagens em funcionamento...


Produção de um paninho!

Depois de muito maquinar, vimos que várias das atividades das crianças não geram produtos. Como assim? Deixe-me explicar melhor...

Sempre que fazemos uma construção com o material Lego, as crianças não veem o que aquela construção poderia produzir de verdade. Por exemplo, quando construímos eletrodomésticos as frutas não são espremidas e os fogões não funcionam; quando construímos escavadeiras, o solo não é revolvido; quando construímos uma semeadeira, não semeamos, temos ideia de como funciona... E por aí vai! Tudo bem que a ideia é fazermos protótipos e rascunhos do que acontece, mas não seria legal podermos ter um produto de verdade?

Foi então que depois de algumas ideias, decidimos fazer a construção de um tear com as turmas de 4º ano, de modo que ao final houvesse a produção de um pedacinho de pano.

O pano seria feito a partir do alinhavo de barbante, lã, linha de trico etc. com duas cores diferentes.

Isso significou conversarmos sobre o funcionamento do tear, algo que viram com as professoras regentes, assistirmos vídeos de teares em funcionamento e vermos imagens de partes do tear. Tudo isso para entendermos um pouco o funcionamento de um tear, experimentar um modelo inicial de tear, para depois colocaremos a mão na massa e fazermos nosso paninho.

Acho que nessas horas vale a pena todo o esforço em pensar atividades diferentes... Ver a moçadinha entender a ideia do tear, pensar na trama entre as linhas hora por cima hora por baixo, ver um paninho nascer da linha foi muito bacana!


Como este foi o primeiro teste, o momento final foi um tanto frustrante. Tirar a linha do "tear" e conseguir manter tudo junto enquanto as pontas das linhas eram amarradas para não soltarem algo muitíssimo complicado. Numa turma, apenas um grupo conseguiu deixar tudo junto, na outra, tentei orientá-los para que tivessem mais linha para fazerem a amarração final. Isso sim foi trabalhoso.

Enfim, de fato, ao pensarmos no funcionamento do tear não tem nada de muito simples e exatamente por isso, valeu a pena também reforçar a importância de reconhecermos que esse tipo de trabalho artesanal deve ser valorizado. E muito.